Retomo o racicocínio que fiz atrás sobre o Bodyboard estar fora dos ISA World Surfing Games, para mencionar o lado positivo da coisa. É obvio que também o tem. Diria até que, se nos marimbarmos para os pensamentos do "paz e amizade", em termos teóricos o Bodyboard saiu a ganhar. Podemos também pôr por agora de parte de parte os motivos que estiveram por detrás desta decisão, já que dizer que foram económicos, não passa de expeculação. Embora, aqui entre nós, ninguém mos tire da ideia.
Se assim é, então que Bodyboard arregace as mangas e venha a ter o seu próprio Internacional Bodyboarding Games, o mais rápido possível. De resto, é o que o site do ISA promete e já estão abertas as candidaturas para escolher a cidade anfitriã dos primeiros jogos olímpicos de Bodyboard. Além dos já mencionados pela federação eis, a meu ver, mais dois aspectos positivos: a modalidade demonstrar a sua própria autonomia e valor, enquanto desporto por equipas, em particular, o alto nível em que se encontra o Bodyboard português face ao de outros países. Não menos importante, a possibilidade das equipas comportarem maior número de elementos femininos, já que o último ISA levou apenas a competição Rita Pires, deixando para trás outros grandes valores do Bodyboard feminino português.
Se o Bodyboard precisa do Surf e vice-versa? Nem pensar. Mas penso que, com esta decisão, ficará a faltar um momento de encontro entre estas duas modalidades, pondo de parte por momentos algumas animosidades e rivalidades, em detrimento de uma causa comum. Se o Bodyboard e o Surf de competição precisam dos interesses comerciais? Infelizmente sim. Demasiado. Embora a situação já esteja muito mudada, temo que os investimentos entre um World Surfing Games e um World Bodyboard Games sejam bem diferente. E, em épocas de crise, a corda rebenta sempre para aquele que dá menos retorno, em teoria... .
Ou será esta uma mera visão feminina omântico-pessimista de toda a coisa? Espero que esta fractura traga então os tão esperados benefícios. Ficamos à espera.
O que é isto de ser mulher num desporto maioritariamente masculino?
É esta a pergunta a que me propuseram responder nesta edição. O meu primeiro impulso foi partilhar esta questão com alguém na mesma condição. Foi aqui que me surgiu a primeira pista: a solidão. Se surfar já é só por si só um desporto individualista, fazê-lo sendo rapariga ainda o é mais, já para nem falar no acto de escrever para uma revista dedicada a esses desportos.
As pioneiras sofreram na pele o preconceito de serem mulheres e serem diferentes, mas abriram a porta às gerações mais novas que lhes puderam seguir as pisadas. Particularmente aos nossos desportos de mar, penso que se está a evoluir cada vez mais no sentido do respeito e admiração pela mulher que, tal como os homens, gosta de ondas e já rivaliza em performance. Bom exemplo disto mesmo, no plano competitivo, foi a recente etapa do Nacional Open de Bodyboard em Sagres, onde Rita Pires esteve perto de atingir as meias finais, em baterias mistas, com o tri-campeão europeu Manuel Centeno e o top 6º no ranking mundial Hugo Pinheiro, ainda na água; isto só para mencionar alguns.
Pessoalmente, ao invés do preconceito dentro de água, sinto um pouco de solidão e a falta de solidariedade feminina. Sinto o peso de me destacar, por ser diferente, quase sempre a única e por isso não querer dar parte de fraca, ambicionar fazer mais melhor, tanto para mim, mas talvez ainda mais para os outros... . E esta talvez seja uma condição ou condenação exclusivamente feminina: sentir o dever e o querer provar constantemente a nós mesmas e a eles que afinal também conseguimos ser bons nas mesmas coisas.
Nunca senti qualquer tipo de preconceito dentro de água. Muito pelo contrário, seja entre companheiros de surfada ou ilustres desconhecidos. Um pouco de cavalheirismo? Talvez. Mas de qualquer forma, a aversão de outrora a mulheres no mundo do surf, diria que é inexistente. A haver preconceito, será o das mulheres e ondas grandes não combinarem. Será esse, sem dúvida, o próximo tabu a derrubar.
Penso que Portugal já está no bom caminho, com franca expansão no número de praticantes, com o interesse crescente dos patrocinadores e das marcas que vêem o surf feminino como um nicho de mercado importante e os media que lhe dão cada vez mais visibilidade e voz à condição de ser mulher e gostar de descer ondas. Neste aspecto a Free Surf está de parabéns já que é uma das pioneiras ao preocupar-se, desde a sua fundação, em ter um espaço próprio para as raparigas se reverem e para os homens compreenderem um pouco do espírito feminino no mar.
E sendo esta época de desejos para 2009 almejo que este seja um ano em que mais raparigas se decidam fazer-se às ondas e não tenho medo de entrar neste mundo ainda tão masculino, mas igualmente arrebatador. E a pouco e pouco a solidão de cada uma de nós - Flores do Mar - dará lugar a uma grande cumplicidade.
Texto Publicado na Revista FreeSurf Secção "Flores do Mar"-
Nr. 7 Janeiro 2009
Ressaca a dobrar: de ondas e de comprimidos. Estão perante a primeira pessoa que se constipa porque... não tem ido à água.
"O bodyboard deixou de fazer parte dos ISA - internacional Surfing Games"
Assim se pode ler no site da Associação que tem, com esta decisão, o objectivo de "concentrar todos os esforços em diferentes disciplinas de surf actualmente existentes". Assim, planeiam um campeonato exclusivo de Bodyboard que trará, segundo eles "uma maior visibilidade" ao desporto.
Fernado Aguerre, presidente do Isa, diz que a decisão de separar as modalidades de "stand up" e bodyboard tem em conta as necessidades particulares de cada desporto, a saber, tipos de mar mais apropriados e recursos especifíficos de julgamento para cada desporto.
A meu ver, esta decisão destroí aquilo que até aqui havia sido construído com o ISA. Deita por terra o verdadeiro espírito dos Internacional Surfing Games, uma espécie de espírito Olímpico. É certo que continua a aproximar selecções, mas também é certo que deixa de existir uma forma extremamente importante de aproximar sufirstas, longboarders e bodyboarders. Falo não só de atletas. Inconscientemente o público podia apreciar performances pelas quais, à partida, não se interessaria: qual é o bodyboarder que vai ver uma prova de surf? Ou vice-versa? Quem sabe, se dali não ia nascendo um certo respeito pela modalidade alheia? O caso do último ISA quanto a mim foi exemplar: os excelentes resultados dos bodyboarders portugueses catapultaram a selecção para um honroso sexto lugar, mais as medalhas individuiais de prata, com Manuel Centeno e de bronze com Hugo Pinheiro e Rita Pires. Dou por mim a ouvir um certo burburinho entre a comunidade surfista: "ai se não fosse o bodyboard...". Goste-se ou não se goste, o que é certo é que este tipo de competições ajuda (ou ajudava) a criar laços de familiariedade entre disciplinas. Quando normalmente são auma espécie de dversários, surfistas e bodyboarders lutavam por uma causa comum. Separar o "stand uo" do bodyboard é, quanto a mim, um retrocesso no que de bom já foi conseguido. Surf e Bodyboard, de novo, de costas voltadas.
Parece-me que os aspectos positivos desta separação, apontados pelos distintos senhores do ISA não suplantam os aspectos negativos que dela nasceram. Maior "visibilidade do Bodyboard"? Se é que o Bodyboard precisa de maior visibilidade do que aquela que já tem, não teria ainda mais visibilidade indo beber do reconhecido mediatismo do surf, competindo em conjunto? "Necessidades particulares de cada desporto"? É certo que existe mar mais propício à pratica de cada um dos três desportos, mas também é certo que existe um ponto de equilíbrio que é ideial para os três. As finais do ISA deste ano no CDS foram, indubitavelmente feitas em más condições para os três desportos e não serão ondas longas e tubulares o sonho de qualquer rider, indpendentemente de como as desce?
O Bodyboard sempre foi e será um desporto marginal. Mas, por ser "marginal", não quer dizer que o seja num mau sentido. Se calhar é mesmo esse o lugar onde nós, bodyboarders, o queremos. ok deixem-nos sossegados no nosso canto, bem longe do "morangos style of living". Quanto a mim as razões acima descritas não passam de desculpas que respondem à urticária de certos interesses económicos. Bodyboard ao lado das disciplinas de surf é incómodo: é reconhecer uma espécie de filho bastardo que, sim senhor cresceu e já é muito importante, mas provoca sempre uma certa azia quando se junta à familía uma vez por ano no "Natal". Será coincidência que o próximo ISA, a realizar na Costa Rica em Agosto, seja Billabong ISA World Surfing Games? A marca posicianada no surf, sem bodyboard team... .
Como tirar a pedra do sapato? "Está-se a planear um campeonato do mundo exclusivo ao Bodyboard!" Puxa, que generosos. Fico então à espera. Sentada.
E quem disse que Portugal anda cinzento de tanta crise?!
É agora que vou concretizar o meu sonho e fazer tow out no porto de Santa Apolónia !
O desfiladeiro da Nazaré é uma espécie de imenso vale submarino que atinge os cinco mil metros de profundidade e os 150 junto à costa e se estende ao longo de 200 km. Funciona como um gigantesco "aspirador de inertes" e permite ecossistemas diversos, de acordo com o seu nível de profundidade. Em diversos estudos nacionais e estrangeiros, encontraram, por exemplo, um tubarão a 3600 metros de profundidade, assim como diversas colónias de corais e espécies ainda desconhecidas. Este espectacular acidente geomorfológico de origem tectónica, relacionado com a falha da Nazaré-Pombal, começa a definir-se a cerca de Numa iniciativa inserida no projecto europeu HermesO, o Canhão da Nazaré - um dos mais importantes de todo o projecto - foi alvo de estudos executados com o apoio de um ROV (Remote Operating Vehicle) que permitiu recolher estes e outros tipos de dados em profundidade. O robô, controlado por fibra óptica, tem várias câmaras e garras controladas em tempo real por operadores apartir de um navio. As actividades de recolha de amostras e análise realizadas em 2007 pelo navio “James Cook” foram ainda complementadas com o trabalho de cartografia do fundo do mar executado pelo navio D. Carlos I, que analisava também a água e avaliava as correntes existentes.
Mas vamos ao que mais nos interessa: Como se formam as ondas afinal? Tomei a liberdade de citar a tese de mestrado de Luís Quaresma (sim há uma tese sobre o Canhão da Nazaré!) onde, de uma forma poética e simples nos explica o processo para quem, como eu, não entende rigorosamente nada de Física:
Quem não brincou à beira de um charco sem resistir a atirar-lhe uma pedra? O fascínio de perturbar uma superfície plana, e admirar o efeito das ondas que a modelam, é inerente a todos nós. Enquanto que o ponto da colisão é dependente da nossa pontaria, as “ondinhas” geradas são função das características do charco e da pedra. Se este fosse homogéneo (com igualdensidade em todo o domínio) e isótropo (onde a velocidade de fase da onda é a mesma em qualquer direcção), observaríamos uma circularidade crescente, resultante de uma dispersão radial da onda. No entanto, os charcos que se formam após uma dia chuvoso são tudo menos perfeitos, constituindo as folhas, os ramos, as pedrinhas e as margens obstáculos à propagação da perturbação. Este contributo promove uma dinâmica variada, alimentada por processos físicos como a difracção, a reflexão e a refracção. (...) Imagine-se agora que o nosso charco apresenta no fundo uma camada de água mais fria e enlameada. Desta vez, deixámos de ver o chão e a água cristalina à superfície permitindo verificar que a fronteira entre as duas camadas “está já ali”. (...) À semelhança da superfície, a fronteira que separa as duas camadas será perturbada e sobre ela vão também dispersar-se ondas, modeladas pelas características do charco. (...) O oceano mostra-se em muitos aspectos como um gigantesco charco estratificado, onde as camadas se diferenciam por diferentes densidades e as pedras atiradas não alteram por si só a sua superfície já perturbada. No entanto, oscilações internas ocorrem de forma ubíqua em todo o seu domínio, sem que se conheça exactamente os agentes que as originam (de onde vêm as pedras?).
Estas perturbações da estrutura interna do oceano aparecem recorrentemente nos registos de temperatura, salinidade e velocidade da corrente, tendo sido muitas vezes apontadas como parte constituinte do ruído da medição.
Identificação das assinaturas de ondas internas presentes na imagem SEASAT sobre o canhão submarino da Nazaré (QUARESMA, 2003). Classificação dos trens de onda por direcções de propagação de fase. Em cor azul destacam-se as ondas que se propagam para a plataforma a norte do canhão, a verde as que se propagam para a plataforma a sul do canhão, a amarelo e a roxo as ondas que se propagam no sentido do largo. Integração da interpretação da imagem SAR com a carta batimétrica do canhão da Nazaré publicada pelo IH em colaboração com o Dr. VANNEY (1988).
Em suma, o Canhão da Nazaré é um gigantesco acidente topográfico, de características únicas no mundo e desempenha um papel preponderante na circulação regional das massas de água. As suas características favorecem o transporte de massa e energia entre as regiões da plataforma interna e o oceano profundo. Por esta razão, entre outro tipo de ocorrências, nomeadamente a forte dinâmica semidentar daquela zona, ocorrem as ondulações de grande amplitude e período que tão bem conhecemos... e que dão momentos tão espectaculares como este.
Jaime Jesus, em 16 de Dezembro de 2007, capatado pela objectiva do fotógrafo do jornal “ Record”, Miguel Lopes Barreira, durante o Nazaré Special Edition. Esta fotografia venceu o terceiro prémio do World Press Photo daquele ano.
Adaptado de:
http://www.euclides.net/noticias.php?id=598
Evadir-me, esquecer-me, regressar
À frescura das coisas vegetais,
Ao verde flutuante dos pinhais
Percorridos de seivas virginais
E ao grande vento límpido do mar.
SophiaM.Breyner in Dia do Mar IV
Vicissitudes da vida, ou vicissitudes minhas, perante a vida, impediram-me de ir à água estas últimas duas semanas. Shame on me. Shame on me quando deixo de fazer a última coisa que me alegra, a única coisa que tenho certa quando nada mais parece fazer sentido. Com o passar dos dias passam a ser remotas as sinestesias, as imagens, como se tivesse acordado de um sonho que se esvai a pouco e pouco nos primeiros minutos de vigília. Assim eram as minhas lembranças e estados de alma do "estar dentro de água". E passaram... só duas semanas.
Ontem fiquei-me pelo passadiço de carcavelos, saboreando a calmia duma praia banhada pelo sol invernoso, sem o frenesi doentio dos dias de Verão. Sabe bem olhar. Simplesmente. Fazer as pazes com a vida e com o mar que me chama, mas que a cobardia me impede de responder. Cobardia de quem está desiludido com tudo, cobardia de quem pensa que já esqueceu e já não é capaz. Cobardia de sentir frio, literal e metaforcamente falando, e estender os braços num longo "não vale a pena".
Não costuma ser este o espírito de quem entra no Ano Novo. Mas foi este o espírito com que vim do Ano Velho. Nada melhor do que obrigar-me a entrar hoje dentro de água. Sim. Shame on me again. Mas nunca se obrigaram a fazer algo, sabendo que é para vosso bem? Pois hoje fui mais forte que o frio das minhas ideias e fiz-me ao frio aparente do mar.
Foi com prazer redobrado que apanhei a minha primeira onda do ano, numa espécie de alegria infantil. De repente, tudo ficou mais quente, tudo pareceu melhor. De repente o frio passara porque, afinal, esta-se bem melhor dentro de 14º graus do que nos nos 5º ou 6º que fazem lá fora... ou simplesmente porque, afinal, uma surfada dá novo fôlego à vida.
É uma das melhores coisas que existe e, se calhar, aquela que nos mostra com mais clarividência e imediatez que vale a pena Viver, nem que seja para esta sinédoque de sensações que nos traz. Sim, Surfar é a parte dum todo, que é Viver. E quando às vezes nos esquecemos de Viver... o melhor é lembrar-mo-nos apenas duma parte... aquela que ironicamente aquece o frio da Vida, numa onda gelada duma fria tarde de Inverno.
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