Domingo, 1 de Novembro de 2009
Ousar e Vencer

 

Apesar da tendência se estar a inverter à medida que os anos passam, a verdade é que continuamos a ser poucas “flores” no mar. A praticar bodyboard eu diria que ainda somos menos. No entanto, o bodyboard feminino em Portugal soma e segue. Ainda que não tendo a maturidade que esta modalidade possuiu no Brasil, habituada a arrebatar títulos mundiais ano após ano, as atletas portuguesas têm elevado cada vez mais a fasquia e contribuído, em muito, para aumentar o nível deste desporto na versão feminina.

Decorridas oito etapas do circuito mundial, Portugal tem orgulhosamente quatro atletas no top dezasseis: Catarina Sousa, Rita Pires, Neuza Mochacho e Marta Leitão. A onda de resultados expressivos das portuguesas culminou na última etapa de Grand Slam realizada na Praia Grande. Pela primeira vez, em catorze anos de edições, uma portuguesa venceu a edição do Sintra Portugal Pro frente a… outra portuguesa. O feito inédito foi conseguido pela atleta de Carcavelos, Catarina Sousa, frente a Rita Pires, campeã nacional em título, numa final bem disputada. No entanto, não foram apenas estas duas atletas nacionais a destacarem-se nesta prova de alto nível competitivo: a jovem Marta Fernandes, aluna de Catarina Sousa, provou ter a lição bem estudada e disputou a meia-final com a sua mestre. Para trás ficaram, em baterias women on women, a tetra campeã do mundo Neymara Carvalho ou a vice-campeã do mundo 2008 Jessica Becker. Noutras duas etapas do circuito mundial posteriormente realizadas em Portugal estas atletas portuguesas voltaram a provar o seu valor: no Miss Sumol Cup, em Aveiro, Marta Fernandes conseguiu um quinto lugar e Rita Pires chegou mesmo a disputar a final do evento. Em Peniche, Rita e Catarina Sousa chegaram aos quartos de final.

Mas a senda de bons resultados não se fica apenas pelo circuito mundial. Ao integrar a selecção nacional no Eurosurf 2009 Catarina Sousa sagrou-se, no início deste mês, campeã europeia na categoria de Bodyboard feminino, ao lado de Manuel Centeno, vencedor da categoria masculina. E o ano competitivo nem sequer terminou.

O que é que esta geração terá de diferente? Terá, acima de tudo, uma grande dose de ousadia. Ousadia em ser-se mulher num desporto de homens. Graças a elas, cada vez menos, um desporto de homens. E ousadia em competir numa modalidade que parece ser, invariavelmente, incompreendida e subvalorizada, destinada a viver à sombra do Surf. Mas talvez sejam estes os factores que desafiam diariamente a antiga e a nova geração feminina do bodyboard português, desde os tempos da pioneira Dora Gomes. E ao invés de se resignarem com a falta de apoios, de se deixarem dominar pelo medo de não serem levadas a sério, cada uma delas tem um papel preponderante em traçar o caminho das gerações vindouras, ao mesmo tempo que vai traçando o seu. Numa grande lição de proactividade, estas meninas têm-nos mostrado que as vitórias individuais fazem-se também de um trabalho conjunto fora de água. Sobretudo fora de água. Acima de tudo, compreenderam que, para serem levadas a sério, primeiro têm de fazer com que levem a sério o seu desporto e estabelecer laços na comunidade. Só assim estão, estão criadas as bases para se poder chegar mais longe, além-fronteiras.

Na edição de Agosto mencionei o trabalho de promoção do bodyboard na comunidade levado a cabo por Rita Pires, não só através da presidência da Associação de Bodyboard da Caparica, mas também através do seu blogue, programa de televisão, escola ou workshops.  Mas não menos importante, tem sido o trabalho da Boogie Chicks, único do género em Portugal. Este é um derradeiro exemplo de como o sentido de comunidade pode fazer tanto pelo bodyboard feminino português. O projecto inicialmente desenvolvido nos anos 90 por Dora Gomes e retomado em 2004 por Catarina Sousa e Teresa Duarte, tem como objectivo promover encontros de bodyboard feminino em diversos pontos do país e ilhas tendo, ao mesmo tempo, uma escola 100% dedicada a meninas que queriam aprender bodyboard. Pela sua singularidade e poder aglutinador, este projecto tem sido em grande parte responsável pelo mediatismo que o bodyboard português possui hoje em dia.

Criadas as bases e o sentido de comunidade, cria-se valor e credibilidade para que possa nascer uma nova geração de vencedoras levadas cada vez mais a sério e outra, de freesurfers cada vez em maior número, inspiradas pelas primeiras.

 

PS. E agora que o bom tempo parece nos ter deixado de vez, meninas, não se deixem intimidar pelo frio que se avizinha: vençam à vossa própria maneira e ousem continuar a surfar, em pé ou deitadas, mas ousem ser também levadas a sério e mostrem que o free surf não foi para vocês um simples amor de verão...  

 

 

Texto Publicado na Revista FreeSurf Secção "Flores do Mar"-

Nr. 16 Outubro 2009

 

 

Não percam nesta edição a primeira crónica para a FreeSurf de Hugo Pinheiro intitulada: Uma Viagem à Eurosurf. Este campeão que dispensa apresentações passará, daqui para a frente, a escrever para a revista e irá contar-nos como é Surfar com as Quinas de Portugal.

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memorizado por LaraR às 17:32
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