Terça-feira, 29 de Abril de 2008
Pecados
A Ira é...

...ver escarrapachado na capa da Vert deste mês aquilo que devia ser um secret spot.

Sinto que escancararam ao mundo as portas do paraíso. Oxalá me engane, mas não está dado o primeiro passo para  banalizar mais um refúgio que nem ao melhor amigo se ousa segredar? Se bem me lembro, não há muito tempo o "alçapão da Cave" era o segredo mais bem guardado da Ericeira. Hoje em dia, só não é destino de grandes romarias, porque são poucos os que na realidade arriscam o pescoço. Embora muitos sejam a dizer que por lá já cometeram grandes feitos... .

E é aqui que a minha costela de aspirante a jornalista entra em conflito com a amante solitária de ondas e paisagens. A primeira, diz-me que o leitor tem direito a saber, tal como eu, da existência de tal lugar. É um direito da res publica e, por outro lado, o dever do jornalista, inchado de orgulho, em ser o primeiro a dizer "eu sei que existe, eu sei onde está, tomem lá o onus da prova". A segunda prefere, indubitavelmente, proteger a todo o custo o lugar mágico que lhe foi dado a conhecer como o mais preciso dos segredos.

É acima de tudo... respeito.
Respeito por quem desbravou antes de mim aquele lugar. Respeito em manter um segredo. Respeito por aquele pedaço de natureza abençoado, onde se conjugam, num adagio, os elementos água, terra e ar... . E assim devia permanecer, sendo apenas desbravado, num ou noutro escasso momento. É que, afinal também é contra-natura deixar vazia uma onda perfeita, não olhar um horizonte onírico, não crispar a pele com o mais salgado dos off-shore. Mas acontece que estes devem ser actos solitários pois tudo o que implica massas implica a destruição ou profunda modificação de uma espécie de património, seja ele cultural, seja ele natural.

Considero que este ou outro desporto de mar é bem mais que uma prancha da última moda, ondas, manobras e fama. É o contrário da preguiça. É o saborear do caminho que se faz para chegar até lá, literal e metaforicamente falando. São avanços, retrocessos e desiluções. É persistência. É mérito. É o prazer da surpresa da descoberta. É a ousadia de se lançar em "mares nunca dantes navegados". É deixar incólume aquele pedaço de céu na terra para que, no nosso regresso, ele nos brinde com a mesma pureza duma primeira vez.

Já não sei se quero "respeito" pelo meu desporto. Respeito implica "reconhecimento", implica "fama". Acho que prefiro, no lugar da soberba, padecer de egoísmo, gula e luxúria.

E avareza...
... acho que foi a última vez que contribuí para a cultura de massas comprando a Vert.
Estou...:
memorizado por LaraR às 01:19
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5 comentários:
De Nuno a 2 de Maio de 2008 às 01:23
Além de seres uma óptima jornalista, surfares já bastante bem, tens a visão ideal do BodyBoard ! Tomara muitos BodyBoarders old school pensarem da forma como tu pensas! Adorei o texto, está divinal! A vert sinceramente, fala fala fala, mas só os vejo a fazer merda , como é possível divulgar ondas atrás de ondas e continuarem impunes no meio do nosso desporto?! A vert é um pau de dois bicos, querem é ganhar o ordenadozinho deles, querem ser a revista maria do BB , querem ser o jornal record ao anunciar a contratação do Ronaldinho pelo Benfica, a vert apenas tem um intuito, vender, vender, vender, mais nada! Cambada!!!
De LaraR a 2 de Maio de 2008 às 19:09
Jornalista não sou, mas se me derem emprego e tal... alma e habilitações já eu tenho =D
Mas se calhar por pensar assim como penso é que estou no desemprego. Hoje em dia reflecte-se cada vez menos nas consequências do que se divulga, do que se escreve. Já não há o informar/formar... mas sim o "publicar primeiro" e "especular". A Internet só veio adensar este problema ainda mais. Todos somos "fazedores de notícias". Somos ao mesmo tempo, consumidores vorazes de informação e também, ao mesmo tempo, produtores, pois construímos nós mesmos uma espécie de realidade informativa, que eu não chamo noticiosa, porque nós não somos profissionais creditador e muito do que se diz por aí, não passam de opiniões próprias e boatos.
No mundo dos desportos de ondas, a coisa complica-se ainda mais porque nós, os praticantes, acabamos tb por ser a fontes noticiosas. É o passa-palavra que, neste caso, fez chegar aos "ouvidos" da vert a existência deste spot por exemplo. Aqui não há o jornalita puro que vai fazer "uma reportagem" no sentido lado e descobrir forçosamente até ao fim do fecho da edição um novo spot. O que é notícia aqui... é algo que já é do conhecimento comum de algumas pessoas que tomam a decisão de tornar público algo que já conhecem. A vert tem depois a "pressão" de publicar essa informação, como meio de comunicação que é... tem de dar visibilidade àquilo que até então era da esfera privada. Arriscaria em dizer que se houvessem duas revistas, este spot já tinha sido publicado há muito mais tempo. Haveria uma constante competição entre as duas revistas em divulgar em primeiro lugar novas coisas. No entanto, uma revista de bodyboard não se rege pelos mesmos critérios que um jornal por exemplo. Há uma continuidade de contexto. Como tal, não se trata aqui de perder para sempre a oportunidade de publicar um assunto, porque esse assunto tem imensas formas e momentos possíveis de ser abordado. Pergunto eu se haveria necessidade de espetar na capa um spot que até agora era desconhecido. Há formas de abordagem da mesma informação e considero que aqui a Vert não esteve feliz. Aliás, não tem estado vezes de mais. Em termos de conteúdo nem se fala... e já nem as fotografias valem o dinheiro que a revista custa. Mais a mais quando atraiçoam as pessoas que se esforçam por manter intactos certos lugares. Há maneiras de abordar as mesmas coisas sob prismas diferentes. Por isso há o jornalismo sério e aquele que cai no sensacionalismo... .
De alguém a 5 de Maio de 2008 às 22:22
Ao longo dos anosa verttem contribuido activamente para o abate sistematico de diversos secrets em Portugal. Como já foi referido o que interessa à vert é vender e nada mais. Neste caso particular a onda era conhecia da e surfada há mais de 15 anos. Recentemente foi invadida por um bando de putos ramelosos com uma sede de fama abjecta e desprezivel destruindo-se aquilo que foi guardado por alguns por quase duas décadas. Maldita Vert que fomenta este espirito. Malditos ramelosos....
De hugom a 15 de Maio de 2008 às 12:48
Digam-me um juízo de direito (ou deontológico já agora) válido porque é que a vert que é um orgão de informação deveria proteger 5 ou 6 indivíduos em especial.
É muito fácil, e conveniente, matar o mensageiro pela mensagem.
Se voces tem algum problema com fotografias nesse pico deveriam esclarece-lo com os bodyboarders ou o fotógrafo em questão.
De Anónimo a 15 de Maio de 2008 às 23:47
jasusu!!! o que se deve proteger e preservar sao os LOCAIS e a sua sacralidade, a autora nao falou em proteger uns marmanjos quaisquer que por acaso andam prali a chapinhar...ve se antes de comentares...LE O TEXTO!!!!!

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