Domingo, 25 de Maio de 2008
Afinal há mais vida para além do Cristiano Ronaldo...

É sempre agradável quando os grandes atletas - aqueles outros esquisitos que não correm com a bola nos pés - vão sendo reconhecidos pelos nossos jornais.

É nestes casos que já é notícia só por si, isto ser notícia. Parabéns Pinheirinho!


Hugo Pinheiro já soma dois títulos europeus e é vice-campeão do mundo
A deslizar nas ondas de quase todo o mundo

 

Aos 28 anos, o bodyboarder português Hugo Pinheiro é já um atleta profissional há quatro anos e tem percorrido boa parte do mundo a disputar as várias etapas dos circuitos europeu e mundial, tendo no seu currículo os títulos de bicampeão do European Tour of Bodyboard em 2003 e 2004, bicampeão europeu por selecções em 2005 e 2007 e vice-campeão do mundo ISA em 2006, além de campeão nacional e 14.º colocado no ranking mundial.

Patrocinado pela Red Bull desde 2004, Pinheiro tem podido dedicar-se quase exclusivamente à modalidade, treinando constantemente na Costa de Caparica, onde vive, e também em Peniche, uma das melhores praias para a prática do bodyboard.

"Comecei a fazer bodyboard aos dez ou 11 anos na Costa de Caparica quando ainda tínhamos apenas pranchas de esferovite", relembra o jovem atleta português, dizendo que a evolução tecnológica mudou radicalmente o equipamento, que hoje é cada vez mais sofisticado e variado.

"Hoje há pelo menos dez tamanhos diferentes de pranchas e dois ou três tipos de shapes, todas elas construídas com propileno no interior e totalmente impermeáveis", explica, sublinhando também que as manobras evoluíram e se diversificaram.

Dos primeiros passos do body-board, quando as manobras incluíam apenas a rotação 3600, o off lip (deslizar na crista da onda) , o tubo e o cut back (realizar uma curva a partir do cimo da onda), actualmente os atletas se esmeram em manobras absolutamente radicais como o ARS - air roll spinner - um rolo aéreo com uma rotação de 3600 no fim, ou o aerial reverse - uma manobra aérea invertida, com um salto no ar e uma rotação 3600 invertida.

"Estas são algumas das manobras radicais praticadas em todos os campenatos, mas ainda há junções de manobras, duplas rotações, invertidos aéreos ...", diz o atleta, explicando que além de ser necessária uma onda grande para realizar estas peripécias é também preciso muita preparação física, especialmente para o trabalho de pernas, braços e lombares.

Uma nova vertente também surgiu recentemente em Portugal pelas mãos de Hugo Pinheiro e trata-se do bodyboard tow-out, que implica a utilização de uma mota de água para rebocar o atleta e a prancha de bodyboard.

"Experimentei esta nova vertente na Austrália durante o campeonato mundial de 2005-2006 e achei muito entusiasmante. Por isso, resolvi fazer uma sessão em Peniche para criar um grupo de atletas interessados em praticar em Portugal", contou ainda Pinheiro.

As manobras são basicamente as mesmas do bodyboard, mas a velocidade é incomparavelmente maior, cerca de 50 km/h. "Ao sermos rebocados por uma mota de água somos projectados nas ondas a vários metros de altura o que é sempre espectacular", comentou, entusiasmado, o atleta português.

Esta é uma prática que requer um perfeito relacionamento entre o piloto da mota de água e o bodyboarder, é um trabalho de equipa fundamental para que as manobras alcancem o máximo de espectacularidade.

Pinheiro entretanto já começou a disputar as etapas do circuito europeu, com provas em Vila do Bispo, que não correram muito bem devido às más ondas e à marcação cerrada de dois rivais da Póvoa de Varzim.

Haverá ainda mais duas etapas em Marrocos e Espanha, e também a disputa das etapas do circuito nacional e, paralelamente, estará presente nas restantes sete etapas do Mundial, a começar em Julho na Austrália e passando pelo Brasil, no Rio de Janeiro e em São Paulo, Chile, Espanha e ilhas Canárias e em Portugal em Agosto.

 

in DN 23/05/08

Estou...: orgulhosa
memorizado por LaraR às 23:49
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Quinta-feira, 15 de Maio de 2008
O fim da aura?

Antes de mais quero agradecer os comentários ao meu post anterior. Não espero que todos concordem comigo, nem é esse o meu obejctivo. Pelo contrário: acho que é pela argumentação e contra-argumentação que todos nós evoluímos um pouco mais e alargamos horizontes. Agradeço em particular a visita e o comentário de hugom, já que me fez pensar um pouco mais aprofundamente sobre este assunto. Não pretendendo com este novo post impôr as minhas ideias uma vez mais, e muito menos, arrogantemente. Venho apenas tentar demonstrar mais teoricamente os meus pontos de vista, dando o feedback merecido, já que vocês tiveram o interesse de o fazer comigo com os vossos comentários.

 

Posso voltar a referir o argumento no meu post anterior: para mim, "tudo o que implica a massificação de qualquer coisa, implica forçosamente a  destruição ou profunda modificação de um património cultural e/ou natural". Embora esta seja uma opinião meramente pessoal, não é propriamente, na sua base, uma ideia minha. Walter Benjamin já referia isto por outras palavras, quando escreveu em 1936 "A obra de arte na era da  sua reprodutibilidade técnica". Este filósfo e sociólogo teorizou  neste artigo o conceito de "fim da aura".

Para o autor a experiência de uma obra de arte residia na sua prórpria aura, isto é, na sua própria autenticidade original ou "manifestação única de uma lonjura", como ele mesmo refere. Ora, com o adevento da sociedade burguesa e, em última análise, com as novas técnicas de reprodução e massificação (a industria, a fotografia, etc), dá-se aquilo a que ele chama de "decadência da aura". Num plano prático, a arte pode massificar-se, reproduzindo-se infinitamente. As massas têm acesso a essa arte, de forma politizadas mas, em última análise, nesse processo de reprodução subtrai-se aquilo que é mais importante: a aura dessa mesma obra de arte, ou seja, a característica essencial que faz dela Ser "obra de arte" em si mesma, única e irrepetível.

O que eu quero dizer com tudo isto é que, ainda que um lugar não seja propriamente uma "obra de arte" - já que até é do plano natural e não cultural - a massificação (ou divulgação perpetuada) desse mesmo lugar, implica inevitavelmente a perda da sua "aura". A "aura" como manifestação de uma lonjura", ou seja, da característica que perdura no tempo e que pode ser admirada e usufruída de geração em geração; deve ser protegida a todo o custo, na minha opinião.

 

Não me referia a proteger 5 ou 6 indivíduos, como dizia o meu caro leitor hugom. Trata-se de proteger a aura do lugar em si. Talvez quisesse antes dizer: "porque é que 5 ou 6 indivíduos têm mais direito em usufurir daquele lugar, do que os restantes leitores da Vert". A isso já eu respondi, na minha humilde opinião. Os direitos conquistam-se, como em tudo na vida. Até para se saber onde ficará tal lugar, tivemos de subtrair a revista, conquistando assim o direito a lê-la. Mas, como dizia no post anterior, para mim o surf e o bodyboard, nomeadamente, não é apenas surfar. "É o saborear do caminho que se faz para chegar até lá, literal e metaforicamente falando. São avanços, retrocessos e desiluções. É persistência. É mérito. É o prazer da surpresa da descoberta". Eis um exemplo, fazendo de novo a ponte para o mundo das artes: é por isso que precisamos de viajar ao Louvre para disfrutar da aura da verdadeira Mona Lisa. Há prazer na viagem, há prazer em aceder a algo mais ou menos protegido do mundo. Há que proteger essa "obra" , para as gerações vindouras,  pois é na sua aura que reside o seu valor.

 

Mas pediam-me também argumentos deontológicos. Faço simplesmente minhas as palavras de Alberto Arons de Carvalho em Direito da Comunicação Social.

 

É da natureza da informação dizer a verdade e, contudo, nem toda a verdade é boa para ser dita. Assim, existe no trabalho jornalístico, e particularmente na procura da informação, uma zona de incerteza que obriga o jornalista a envolver o seu próprio julgamento, a pôr ele próprio nos pratos da balança o interesse público (...).  (p.404)

 

Estão portanto implicados, no trabalho jornalístico factores de ordem técnica e ética que estão em constante tensão: as primeiras, respeitam as condições de uma boa informação e as segundas respeitam os contextos de boa comunicação. A ética é baseada no respeito. Esse tal respeito que referi no post anterior. Arons de Carvalho, cintando Ferry, diz ainda que

 

(...) o respeito se indica por  "uma retenção da actividade instrumental convertida para a actividade comunicacional". Por outras palavras, pelo reconhecimento, no tema tratado pela informação (..). Boas razões significa que a escolha ética, para ser fundamentada, deve necessáriamente passar por uma troca de argumentos. O que é que, no tratamento de tal informação, impõe que eu decida dizer ou não dizer, dizer as coisas de uma forma e não de outra". (p. 416)

 

Quem sou eu para pedir satisfações aos fotógrafos ou bodyboarders em questão, tal como sugeriam. Acrescentava até, quem sou eu para pedir satisfações à Vert ou ao jornalista que em nome da boa informação, esqueceu, segundo a minha opinião volto a sublinhar, a boa comunicação? Não há nenhuma lei jurídica ou deontológica que obrigue em manter sigiloso um lugar perdido em nenhures, se até mesmo os diretos da vida privada, das pessoas públicas, são algo ténues face ao direito da informação. Falava apenas de contextos de "boa comunicação", por isso, volto a citar-me "há maneiras de abordar as mesmas coisas sob prismas diferentes. Por isso há o jornalismo sério e aquele que cai no sensacionalismo... ."

 

Quem sabe se assim "a aura" daquele lugar não pudesse perdurar um pouco mais em toda a sua lonjura.... .

 

 

Bibliografia:

Benjamin, Walter, "A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica" in Sobre Arte, Técnica, Linguagem e Política, Relógio d'Água, 1992.

Carvalho, Alberto Arons et al, Direito da Comunicação Social, 1ª edição, Lisboa Notícias, 2003.

 

memorizado por LaraR às 23:42
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Terça-feira, 29 de Abril de 2008
Pecados
A Ira é...

...ver escarrapachado na capa da Vert deste mês aquilo que devia ser um secret spot.

Sinto que escancararam ao mundo as portas do paraíso. Oxalá me engane, mas não está dado o primeiro passo para  banalizar mais um refúgio que nem ao melhor amigo se ousa segredar? Se bem me lembro, não há muito tempo o "alçapão da Cave" era o segredo mais bem guardado da Ericeira. Hoje em dia, só não é destino de grandes romarias, porque são poucos os que na realidade arriscam o pescoço. Embora muitos sejam a dizer que por lá já cometeram grandes feitos... .

E é aqui que a minha costela de aspirante a jornalista entra em conflito com a amante solitária de ondas e paisagens. A primeira, diz-me que o leitor tem direito a saber, tal como eu, da existência de tal lugar. É um direito da res publica e, por outro lado, o dever do jornalista, inchado de orgulho, em ser o primeiro a dizer "eu sei que existe, eu sei onde está, tomem lá o onus da prova". A segunda prefere, indubitavelmente, proteger a todo o custo o lugar mágico que lhe foi dado a conhecer como o mais preciso dos segredos.

É acima de tudo... respeito.
Respeito por quem desbravou antes de mim aquele lugar. Respeito em manter um segredo. Respeito por aquele pedaço de natureza abençoado, onde se conjugam, num adagio, os elementos água, terra e ar... . E assim devia permanecer, sendo apenas desbravado, num ou noutro escasso momento. É que, afinal também é contra-natura deixar vazia uma onda perfeita, não olhar um horizonte onírico, não crispar a pele com o mais salgado dos off-shore. Mas acontece que estes devem ser actos solitários pois tudo o que implica massas implica a destruição ou profunda modificação de uma espécie de património, seja ele cultural, seja ele natural.

Considero que este ou outro desporto de mar é bem mais que uma prancha da última moda, ondas, manobras e fama. É o contrário da preguiça. É o saborear do caminho que se faz para chegar até lá, literal e metaforicamente falando. São avanços, retrocessos e desiluções. É persistência. É mérito. É o prazer da surpresa da descoberta. É a ousadia de se lançar em "mares nunca dantes navegados". É deixar incólume aquele pedaço de céu na terra para que, no nosso regresso, ele nos brinde com a mesma pureza duma primeira vez.

Já não sei se quero "respeito" pelo meu desporto. Respeito implica "reconhecimento", implica "fama". Acho que prefiro, no lugar da soberba, padecer de egoísmo, gula e luxúria.

E avareza...
... acho que foi a última vez que contribuí para a cultura de massas comprando a Vert.
Estou...:
memorizado por LaraR às 01:19
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